Igreja Matriz do Piódão - Aldeia Histórica do Piódão, Arganil
Fiquei embevecida com esta tão linda e simpática aldeia, perdida no coração da Serra do Açor!
A aldeia do Piódão fica no conselho de Arganil, e é sem dúvida das mais bonitas e tranquilas que já visitei.
A Igreja Matriz recebe-nos, branquinha restaurada, de rebordos azuis, como as igrejas do Alentejo que lhe serviram de inspiração.
Mesmo ao lado é possivel visitar o núcleo museológico do Piódão e aprender um pouco mais sobre os costumes da terra.
De casinhas de xisto e lousa, com as janelinhas pintadas de azul, esta aldeia desce pachorrentamente pela encosta da serra que a abraça.
E em cada casinha algo que me intrigou, nas padieiras das portas são colocadas cruzes feitas de ramos de oliveira e loureiro, para protecção das casas dos espíritos malignos e demónios.
Poderá ele não ter estas características mas foi nesta aldeia tão escondida na serra que, conta a lenda, Diogo Lopes Pacheco, um dos assassinos de Inês de Castro, fugiu para se esconder da ira de D.Pedro.
Ao passear pelas ruas íngremes que nos foram tirando o pouco fôlego que o dia quente de verão nos sugava, encontramos pessoas muito simpáticas e hospitaleiras, como o senhor Lourenço, que sentado à porta da sua venda (cheia de adufes, cestinhas de verga, potes de mel e a mercearia necessária ao dia a dia) a comer uma bucha de pão, cumprimenta-nos e pergunta "não querem levar um frasquinho de mel? É do mais escuro, do melhor!", de sorriso vendedor e olhar de quem gosta de ver pessoas novas pela sua aldeia.
Pessoas que ele não compreende porque gostam tanto desta pequenina aldeia: "O que é que vocês vêem nisto? Gostam do Piódão?" pergunta admirado,"sempre aqui moramos e nunca ligamos a isto..."
Com mais de 80 anos de histórias para contar, pergunta-nos "De onde são?" e replicando ao som da minha voz que dizia "Sou de Viana", recita-nos um poema que aprendeu na escola primária sobre Caminha, terra que conheceu em jovem e que lhe deixou saudades!
Que afago ao coração ouvir falar do Minho em terra que tem o mar tão longe!
Conta-nos o senhor Lourenço, que a sua esposa saía do Piódão com um cesto de uma dúzia de ovos à cabeça e que percorria 70km a pé até à Covilhã para os trocar por outros bens que a terra e a serra não proporcionavam. A luz eléctrica apenas chegou há coisa de 20 anos! A dureza desses tempos só é agora comparável à mágoa do seu olhar quando fala dos incêndios de há 6 anos e que desnudaram a serra que circunda a aldeia dos pinheiros, das árvores de fruto, tornando a terra estéril e o calor ainda mais abrasador... deixando o senhor Lourenço na miséria.
Vai passando os dias sentado à porta da sua venda, penicando a bucha de pão e cumprimentando os turistas.
Já muitos dos que habitavam as casinhas do Piódão emigraram, às soleiras das portas sentam-se as senhoras velhinhas que aproveitam a pouca sombra que a aldeia tem, encostando-se ás pedras frias para se refrescarem.
Tudo cheira a flores! E são tantas as flores! Flores que brotam das pedras do chão como se fosse possível delas terem nascido.
As águas frescas e translúcidas do rio Alva convidam a banhos e a uma merenda debaixo das vinhas que circundam toda a aldeia!
À noitinha, agasalhados do frio que a pedra não emanou durante o dia, sentados numa mesinha no largo da igreja, ouviamos os cantares que vinham da igreja, as senhoras que rezavam as horas à padroeira, entoando com as andorinhas o cantar que só se ouve neste lugar.
Quando as luzinhas se acendem compreendemos porque lhe chamam a Aldeia Presépio... era como se fosse Natal em pleno verão e nós eramos mais uns pastores no cenário.
Uma viagem de dois dias, de cheiros e lugares inesquéciveis, que nos fizeram dizer por mais de uma vez... queremos voltar ao Piódão!
E não é que o mel era mesmo do bom!?!
Sem dúvida uma aldeia de grande beleza. Tal como comprovam as tuas magníficas fotografias.
ResponderEliminarObrigada Godfather!
EliminarFiquei completamente deslumbrada com esta pequenina aldeia,conto voltar em breve!